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Fim de ano 11/10/2009

Posted by Amandinha in Crônicas.
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Era ano novo. Eu não devia ter mais do que sete anos de idade. Não me recordam muitos fatos daquela época. Mas aquela noite de réveillon me fora inesquecível. Talvez meu prezado leitor ache que eu estou fazendo muito alarde por um caso simples. Mas deves compreender que para um jovem garoto aquela noite foi o primeiro sinal de independência, de masculinidade. Mas tenho de ser breve, então, vamos aos fatos.

Havia uma festa em minha casa. Toda a família reunida. Uma boa música era tocada por meu avô e alguns tios. Alguns outros ouviam e cantavam, batiam palmas. As mulheres tomavam conta da comida, a cozinha era um verdadeiro caos e eu não me atreveria a me aproximar de lá, pois levaria certamente um puxão de orelhas.  As crianças corriam de um lado para outro e eu me vi obrigado a fazer o mesmo. Mas foi por pouco tempo. Sentada sozinha, em um canto onde poucos a veriam, estava Isabela. Tente imaginar, meu caro leitor, como fiquei ao ver sua imagem. Minhas pernas manteram-se fixas no chão. Sua imagem alegrava meu coração. Era a figura mais bela que eu já vira em toda a minha vida. Eu a amava, como nunca em toda amaria alguém novamente. Seu olhar era o mais doce do mundo e só de vê-lo encontrar-se ao meu já sentia meu coração palpitar. Era a garota mais encantadora do mundo.

Não sei quanto tempo fiquei parado, olhando-a somente, mas parece-me que poucos segundos após nosso encontro fomos chamados. Faltavam poucos minutos para o fim. Todos foram para o meio da rua. Provavelmente com o intuito de ver melhor os fogos de artifício. 5, 4, 3, 2, 1. E o céu negro ficou manchado de dezenas de cores. As pessoas gritavam e riam. Estouravam-se garrafas de champanhe. Todos se felicitavam. E é aqui que as coisas começam a acontecer. Meu primo me chama. Penso que ele irá me desejar um feliz ano novo, como todos o faziam. Mas estava enganado. Ele havia notado que os adultos, após abrirem as champanhes e encherem algumas taças, colocavam as garrafas sobre os muros das casas, a maior parte delas ainda com resquícios da bebida. Ele sugeriu que nós a bebêssemos, afinal, se não o fizéssemos ela provavelmente seria jogada fora, e nós deveríamos agir como adultos, se eles bebiam é porque deveria ser bom. Não fiquei muito convencido a princípio, mas ele me disse que assim eu poderia conquistar Isabela, que era irmã dele, e, por ser mais velha, preferiria alguém com um comportamento mais adulto. Não tive como não aceitar. A ideia de conquistar Isabela me deixava animado.

Fomos passando de muro em muro, pegando as garrafas sem sermos vistos e bebendo de um só gole, diretamente no gargalo. Creio que percorremos toda a rua, bebendo de toda a vizinhança. Ao retornarmos à minha casa, estávamos já um tanto quanto tontos. Diria que aquele foi o primeiro porre da minha vida. E toda aquela nova sensação me encheu de uma coragem que eu não conhecia antes.

Aproximei-me de Isabela. Ela estava novamente isolada num canto. Eu lhe disse que a amava. Ela sorriu. Fiquei me perguntando se o fizera porque gostara de saber disso ou se achara engraçadas as palavras de um menino embriagado. Como ela nada dizia, tomei uma decisão. Tomei-a em meus braços e a beijei. Era uma sensação nova e a melhor que já sentira em minha vida. Foi como se estivesse no céu. Nunca mais seria capaz de esquecer aquele momento.

Ela desvencilhou-se de mim e saiu correndo. Fugia. Nada mais me importava. Aquela havia sido a melhor noite de minha vida. Deitei-me no chão e fiquei a observar as estrelas. Em cada uma delas via o rosto de Isabela. Deixei-me adormecer por lá mesmo. Sua imagem não sairia de minha cabeça por muito tempo. E eu levaria daquela noite, as lembranças do primeiro amor.

Comentários»

1. Chico - 25/12/2009

Aô, meninão.


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